[A vida, o universo e tudo mais] Não!

20:42 Andrizy Bento 0 Comments

Eu ando tão desapegada de redes sociais que acabei deixando esse fato passar.


Se, assim como eu, você anda meio alienado e quer compreender melhor a história, basta clicar aqui.

A história viralizou e embora eu possa atestar que a maioria das pessoas que se manifestaram sobre o assunto tenha ficado do lado da nerd colecionadora fã do Gavião Arqueiro, especialmente em comentários no facebook e twitter, também vi redatores de sites afamados dizendo que a garota foi tão ou mais imatura que a mãe do garotinho e, pior, que ela é arrogante e egoísta, tal qual a mãe vacilona apontou.


Não estou do lado da garota apenas por ser uma nerd colecionadora como eu. Por ter conhecimento do valor dos “brinquedos” - action figures, na verdade. Nem porque não sou mãe. Mas convivo, diariamente, com a triste realidade de mães que não sabem dizer não aos filhos. De pais extremamente permissivos que acham que os filhos estão sempre corretos e que quando desrespeitam uma pessoa mais velha - ainda que seja uma figura de autoridade, como um professor em sala de aula - direcionam a famosa “cara feia” para o adulto desrespeitado pela criança. E depois de uma discussão grave com estes, ainda saem levando os filhinhos pela mão para comprar presentes na loja de brinquedos mais próxima.

Confesso que não fiz uma estudo aprofundado do assunto, mas já li, por aí, pesquisas que apontam que uma parcela considerável de pais e mães, muito ocupados, com rotinas apertadas, que trabalham o dia inteiro e não têm muito tempo para os filhos (portanto, terceirizando seus cuidados),  acabam se sentindo culpados por isso e, nas poucas horas que tem para desfrutar do convívio de seus herdeiros, optam por fazer tudo o que eles querem, somente para agradá-los, cedendo a todas as suas vontades e caprichos. Esse sentimento de culpa torna os pais permissivos, fazendo com que se sintam monstros ou vilões de contos infantis se, por acaso, se atreverem a dizer NÃO para os filhos, afinal, estes já sofrem o suficiente por passarem grande parte do tempo longe deles… Para suprir a falta de atenção, dão aos filhos tudo o que eles querem. O que termina por criar adolescentes e adultos que não sabem lidar com um NÃO.

 Mas o NÃO, meus caros, precisa ser dito e ouvido.

É complicado dizer qual foi exatamente a primeira palavra dita por uma criança, qualquer criança. Porque, em seus primeiros anos, elas se comunicam através de sons que formam “palavras” que não são exatamente palavras, coisas incompreensíveis, inexistentes, onomatopéias… Às vezes, elas combinam sílabas e, acidentalmente, formam palavras de verdade, coesas, mas que elas nem tem ideia de seu real significado; de que estão dizendo algo que possui sentido.

No caso do meu sobrinho, ele murmurava muitas coisas incompreensíveis, tendo demorado realmente a falar. Mas a primeira palavra que ele pronunciou com consciência, isto é, que ele tinha conhecimento do significado, foi NÃO. A primeira palavra que o meu sobrinho disse foi NÃO, porque ao longo de seus tenros três anos, ele ouviu essa palavra ser repetida diversas vezes. Arrisco dizer que era a palavra que ele mais tinha ouvido em seus poucos anos de vida. 

Ter ouvido tantos nãos, não lhe causou nenhum trauma, nenhum transtorno psicológico, frustração, revolta ou ataques de fúria descontrolados. Muito pelo contrário. O fato de ele já ter ouvido tanto não foi muito importante porque além de, em tão pouco tempo, ele já ter alguma noção (ainda que pueril) de que havia limites a serem obedecidos - do que ele poderia ou não fazer - permitiu a ele que explorasse essa palavra. Ele podia não dizer outras palavras além desta, mas era o suficiente, naquele momento, para que se expressasse, se comunicasse, deixasse claro o que queria e o que não queria. Se ele não queria assistir a um determinado desenho, dizia não. Não queria brincar? Não. Ele compreendia o significado da palavra e, logo, aprendeu a utilizá-la em seu favor. Foi importante para ele.

E eu confesso que tenho extremo orgulho disso: de a primeira palavra dita pelo meu sobrinho ter sido não! Ao longo da vida, nós ouvimos muito não. E a gente tem que se preparar para ouvi-los. As crianças devem ser preparadas pelos pais a ouvirem não. O não precisa ser dito. O não precisa ser ouvido. Quanto mais cedo a criança ouvir a palavra não - e tem que ser a palavra em si, e não uma substituta bonitinha que os pais criam para que a criança não precise lidar tão cedo com uma palavra forte que pode lhe causar um trauma posterior e blablabla - menos frustrações elas irão sofrer ao longo da vida, no futuro, quando o não se tornar inevitável. Quando se ouvir o não em uma entrevista de emprego, não dentro de um relacionamento, não de um amigo, não de um chefe. 

Quanto mais cedo ouvirem, mais acostumadas e preparadas estarão para receber um não. E, então, ao invés de recebê-los com frustração e encararem seu primeiro não como uma derrota da qual jamais conseguirão se recuperar, elas irão superar mais facilmente e seguirão determinadas em busca de um sim.

*Salut*

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